quarta-feira, 16 de março de 2011

Testemunho de uma doente mental

“Tudo começou (agora tenho consciência) numa noite fria de Inverno. Chovia torrencialmente… Saíra há pouco tempo de casa dos meus avós, para ir viver com o pai da minha filha. Depois de um dia de trabalho, preparo o jantar e espero que o meu companheiro chegue. De repente toca o telefone, era ele a dizer para não esperar por ele, pois iria ficar a trabalhar até tarde. Conformada, janto sozinha, arrumo a cozinha. Acendo um cigarro, vou fumá-lo para a varanda. Continuava a chover… Subitamente começo a ouvir passos vindos do meu quarto. Entrei em pânico, meu coração batia descompassadamente. Era impossível ser alguém, pois estava sozinha! Continuava a ouvi-los cada vez mais próximos de mim! Não via ninguém, e o ruído era cada vez mais assustador… estava estática, de tanto medo que senti. Nessa noite, não "preguei olho". Além dos passos, ouvia vozes de gente que não conhecia. Eram gritos aflitos de quem precisava de ajuda. O que seria? Perguntava a mim mesma. Não contei a ninguém… O tempo foi passando, e eu a olhos vistos piorava, continuando a não pedir ajuda, pois achava que eram almas perdidas, que me vinham pedir auxílio. Fui a várias "videntes"e todas elas me davam a mesma resposta: "É médium!" Estava assustadíssima. Não comia, não dormia, começara a ter problemas no trabalho. Era uma incompreendida! (achava eu).
Entretanto engravido. Por incrível que pareça os sintomas da doença foram diminuindo. Passei, a gravidez, sem sobressaltos. Apesar de continuar, a ver, sentir,cheirar… (com menos intensidade).
Nasce a Sara, e retomo a minha vida: trabalho, bebé, marido. Estava feliz! Mas más notícias aguardavam-me. Minha querida avó falecera. Foi o choque. Nova recaída. Achava que o espírito dela estava comigo, perseguia-me, por todo o lado, não para me fazer mal, mas sim para me proteger e à minha filha.
Depois de 4 anos de união, separo-me. Vou para casa da minha (falecida) mãe. Foi uma fase difícil, pois tinha que trabalhar, noite e dia para criar a minha filhota. Para além dos sintomas já citados, sentia-me, triste, angustiada, vazia, pois a vida não me sorria, parecia que o azar me perseguia. Fartava-me de trabalhar e nada tinha. Relacionamentos falhados, excesso de trabalho, a incompreensão por parte dos meus pais (achavam que estava metida na droga). Fui ao fundo do poço, tinha visões de figuras bíblicas (incluindo Jesus). Eu achava que era um "ser especial". Até conhecer o pai do meu filho. Estava feliz (novamente) tinha uma casa, um bom ordenado, e mais abençoada com o meu segundo filho. Tudo piorou 2 anos depois. Estava desequilibrada! Não conhecia ninguém, não comia, não dormia, não cuidava da casa, faltava constantemente ao trabalho. Só queria estar em Igrejas pois pensava, que era "solo sagrado" estando lá, os espíritos largavam-me. Mas na realidade era bem diferente!
Estava a perder o juízo.
Fui abandonada pelo pai do meu filho.
Humilhou-me, tirou a minha dignidade, o meu filho, o meu dinheiro, a minha casa… finalmente fui internada. Comecei a ter consciência do que estava a acontecer.
Nos primeiros 15 dias, continuava a viver no mundo da ilusão. Tinha medo… medo de não ser boa pessoa, boa esposa, boa mãe, boa filha, boa irmã…
Mas graças ao médico que me assiste, a quem devo a minha gratidão tenho esperança de um dia poder contar, principalmente aos meus filhos, o porquê do meu sofrimento,meu, e de quem gosta de mim.
Presentemente, não tenho tido recaídas. Mas não me sinto como há 10 anos atrás. Era uma rapariga alegre e desinibida.
Hoje sinto-me mais retraída, mais apática, por vezes com falta de iniciativa, complexada (engordei 40 Kg), por vezes triste, pois quem eu julgava ser meu amigo, simplesmente ignorava-me, por achar que sou doida. Mas apesar de tudo isto, tomei consciência da realidade e do meu problema, e tudo farei, dentro das minhas limitações, para conquistar o meu amor próprio e o respeito por mim mesma e simplesmente aceitar a minha actual condição.
Faço-o por mim, pelos meus filhos e irmãos. (Tenho um irmão que sofre da mesma doença.)”
 
Paula Santos

Lugar na Sociedade para os doentes mentais

A história da doença mental sempre trouxe tristes lembranças para a humanidade e caminha a passos lentos para melhorar, talvez porque a doença mental ainda não é totalmente explicada e continua a ser um mistério para a medicina ou por razões que fogem totalmente à compreensão de carinho das pessoas que ainda olham para os doentes mentais com preconceito e medo desta doença.

A convivência com um doente mental não é fácil, pois estes são imprevisíveis e algumas vezes agressivos, isolam-se ou mesmo não apresentam afecto, por isso a importância dos profissionais de saúde em orientar a família sobre os cuidados que devem ser tomados durante o tratamento é fundamental. O facto de os portadores de transtornos mentais apresentarem atitudes fora do padrão considerado normal pela sociedade, muitas vezes são excluídos e sofrem com os abusos e indiferenças por parte das pessoas que os rodeiam. Com o progresso dos estudos em Saúde, foi possível constatar que diferente do que se pensava a doença mental tem de ser tratada no meio social, os portadores de tal doença não podem perder a sua civilidade, mas esta tem de ser incentivada e analisada em todo o seu contexto social, biológico e psicológico.

A sociedade também precisa de se preparar para uma nova visão em Saúde Mental que, antes se considerava o “louco” como indivíduo que deveria ser excluído por não obedecer às normas conceituadas normais a agir em desacordo com os ideais impostos por ela. A falta de consciencialização da cidadania faz com que o próprio portador do transtorno mental tenha como única solução a intervenção psiquiátrica por se sentir excluído e dessa forma, o seu quadro clínico sofre declinações. Fazer saúde e trabalhar em Saúde Mental na comunidade é mais do que colocar a responsabilidade destes doentes mentais nas mãos do Governo e das equipas de saúde, é necessário um conjunto e um trabalho sistematizado entre o paciente, a família e a sociedade, tendo os profissionais de saúde como facilitadores neste processo de inclusão na sociedade. A pessoa que sofre e a sua família precisam de ser atendidas relativamente em termos de necessidades e os profissionais de Saúde precisam de estar organizados e preparados para assisti-los na sua própria comunidade e esta deve reconhecer e respeitar os direitos do doente mental enquanto cidadão, respeitando as diferenças e reconhecendo a sua dignidade, começando assim a mudar a visão do próprio doente em relação à sua patologia, encarando-o como um indivíduo activo na sociedade.

“A definição de doença mental dá-se pela questão biológica, porém associada ao factor cultural e, não menos importante, é a eventual influência da sociedade na formação do desequilíbrio mental e, que existe também, uma predisposição do indivíduo para uma “personalidade mais frágil””.              Lepargneur, 2001

Fonte: http://www.artigonal.com/psicologiaauto-ajuda-artigos/o-estigma-da-doenca-mental-para-pacientesfamilia-e-a-sociedade-948903.html

O que é a Saúde Mental??


De um modo bastante generalizado, Saúde Mental define-se por cada um se sentir bem consigo mesmo e com a sociedade. Descreve um nível de qualidade de vida cognitiva ou a ausência de uma doença mental, traduzindo-se na capacidade de um indivíduo apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as actividades e os esforços para atingir a plena saúde psicológica (explica a OMS que não há qualquer definição formal de Saúde Mental, sendo apenas ditada por senso comum e sendo-lhe acrescentado inúmeros significados ao longo do tempo).

E, para atingir essa "plena saúde psicológica", cada um tem de ser mostrar capaz de enfrentar a sua própria existência, assumindo todas as consequências, não menosprezando as dificuldades nem recusando apoios ou ajudas vindas do exterior; no entanto, há que usufruir de independência, sendo uma componente fulcral para o individuo agir num estado de plenitude,sem qualquer anomalia cognitiva.

Em conclusão, para a ausência plena de uma perturbação do foro psicológico o individuo deve ter a capacidade de se avaliar a si mesmo, em qualquer circunstância, distinguindo o correcto do incorrecto, mostrando-se apto para relativizar, para analisar qualquer situação e concluir, de acordo com as circunstâncias, que o que é justificável num momento pode não o ser noutro.